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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Seminário sobre a Vida Consagrada - Crônica



Por Padre Edegard
Presidente da CRB Regional de Salvador

Eis que vos anuncio uma grande alegria (Lc2)

            Na cidade de Indaiatuba-SP, no conhecido bairro de Itaici, de 23 a 27 de fevereiro a Vida Religiosa Consagrada, esteve reunida.Convocada pela Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) mais de 400 religiosas e religiosos, participaram do Seminário Nacional, cujo tema foi:Vida Religiosa: “a loucura que Deus criou para confundir o mundo”.

Pensei empartilhar este texto, não para repetir os conteúdos, debates, plenários, pois estes foram bem registrados eassegurados num CD comas reflexões produzidas e outros textos serão disponibilizados por outros meios.


Se quisermos tomar conhecimento das contribuições feitas por assessoras e assessores, poderemosfazer tanto pelo site daCRB Nacional, como no site dadomtotal.comque disponibilizará as palestras gravadas em vídeo.

            Expresso neste textoo sentimento que vivi. Farei utilizando a simbologia dos“órgãos do sentido”.Quero demonstrar a partir da minha percepção oque passou por minhasmãos, olhos,boca,nariz,ouvidos -por todo corpo –hospedando-se no coração!
Formamos naqueles dias uma comunidade de 400 religiosas e religiosos de todo país, num seminárioconstruído por tantas mãos e corações. O Seminário Nacionaltrouxe afirmações e muitas perguntas não respondidas.


 Quem dera que as nossas dúvidas fossem resolvidas a partir de uma pessoa que à frente nos diz o que fazer... A vida é tão dinâmica que vale o velho ditado: “Quando aprendi todas as respostas,mudaram todas as perguntas”.
            Desde oSeminário Nacional,trago presente no coração cinco sentimentos:

01.                    “Itaici”lugar teofânico

Ir a Itaici é beber das fontes da caminhada da Igreja no Brasil. Por muitas décadas este lugar, especificamente o Auditório “Rainha dos Apóstolos”, foi o cenário das grandes decisões pastorais da CNBB... Ao entrar neste auditório nada melhor do que fechar os olhos, silenciar...lembrar da voz de Dom Helder Câmara, utilizando-se da tribuna, na defesa dos pobres!


Da mesma forma Dom Aloísio, Dom Ivo, Dom Luciano... Também trazer presente Dom Paulo Evaristo Arns, Dom José Maria Pires, Dom Pedro Casaldáliga e todos aqueles e aquelas que sua memória for capaz de trazer presente!
Entrar neste auditório é fazer memória de tantos documentos e pronunciamentos proféticos da Igreja Católica no Brasil,da Semana Social, o encontro nacional dos presbíteros, Semana Catequética... ou quem não recorda do 4º Intereclesial das CEBs,em 1981 com o tema:Povo oprimido que se organiza para a libertação.
Nesta mesma tribuna quantas pessoas subiram para denunciar a violação dos direitos humanos e defender os pobres!
Como religiosos trazemos também uma “nuvem de testemunhas”(Hb 12): Ir Dulce dos Pobres, Madre Cristina, Pe Toninho, Ir Doroty, Ir Ana Roy e tantos e tantas religiosas e religiosas/osque assumiram seu quefazerhistórico.
Neste espaçosim-bólicoa vida religiosa no Brasil acampou e bebeu destas mesmas fontes, atualizando seu agir no contexto em que vivemos. Agora é o nosso momento!

02.          Um encontro marcado por sím-bolos e metáforas

Já na chegada (quarta feira) participamos da eucaristia, inclinando nossa cabeça e recebendo as cinzas. Com as palavras“arrependei-vos e crede no evangelho”reafirmamos nosso desejo em direcionar nossa vida na via aberta e indicada por Jesus.
O encontro foi criativo etrouxe figuras que iam e voltavam na reflexão: “palácios” e “cabanas”, avião e bicicleta, jegues e pulgas, tudo isso rodeadode loucos e loucas - metáforas usadas constantemente pelos assessores, tão bem compreendidas no contexto de cada fala.
A palavraloucurasoa para muitos, como algo estranho ou como algo negativo. Palavra que para alguns deve ser descartada da VRC... Mas na riqueza do nosso vocabulário, as palavras contem um sentido amplo; em se tratando da “loucura”tivemosa oportunidade em buscar do seu significado.
Ouvimos muitas vezes expressões como: “Ele está louco de paixão por aquela pessoa”... “Estou louco de vontade de comer um churrasco”... “Está louco rapaz?”... essas afirmações não são lidas ao pé da letra, mas por trás da palavra!
Para contextualizar esta loucura,buscamos no dicionário o seu significado: 1.Loucura: “insanidade mental” – diga-se de passagem, não é o nosso caso... todos os presentes gozavam de uma excelente sanidade, disposição, vontade de exercer sua missão. 2.Loucura: atitude de quem devota grande amor e entusiasmo. Neste caminhotrilha a VRC. Loucos/as de amor/paixão!
Este é o sentido da loucura evocada e provocada pela CRB à toda VRC; “loucura”fundamentada a partir do evangelho de Marcose da carta de Paulo aos Coríntios. Coube à equipe bíblica oferecer o texto e o contexto dos referidos textos. 
03.          A Maluquez: Loucura com Lucidez!

Busquei na poesia,uma contribuição para uma melhor compreensão do sentido desta “loucura”. Vejamos a composição do cantor baiano, Raul Seixas (1945-1989) na canção intitulada “Maluco Beleza”:
“Enquanto você
Se esforça pra ser
Um sujeito normal
E fazer tudo igual...
Eu do meu lado
Aprendendo a ser louco
Maluco total
Na loucura real...
Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez...
Vou ficar


Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza”... (grifo meu)

Uma loucura que se aprende... aprende-se de quem? De Jesus de Nazaré, “um certo galileu”, que numa sociedade de exclusão e perseguição fez a loucura de colocar-se do lado dos pobres, de valorizar as mulheres, os/as samaritanos/as, as crianças! De curar leprosos, cegos, coxos...De ouvir a voz do caído na beira da estrada... Jesus o louco de Deus, o Deus louco! Louco de paixão, louco de amor, louco de ternura, louco de compaixão!


Loucura, portanto, não significa o agir de pessoas desequilibradas, mas uma ação marcada pela lucidez/profecia, amor/compaixão, ou seja, uma “loucura real”!

04.   Um encontro marcado por sabores e odores

Nos seis diassaboreamos o “gosto do Brasil”, trazido na generosidade de todos/as. No domingo, as duas mesas tornaram-sepequenas para festa da partilha: a castanha e cupuaçu do norte, beiju e castanha de caju do nordeste, sucos e bolos do sudeste,chimarrão e pé de moleque do sul,doces com os sabores do cerrado e pantanal – trazidos pelo centro oeste!


Tudo mesclado por ritmos e corpos que se juntavam para dançar - seja na leveza da cultura indiana, ou nos ritmos dosafoxés, vanerão, quadrilhas, carnaval, samba de roda, e tantos ritmos que nos aproximavam e afirmavam que loucura pressupõe a presença dabeleza, da ternura, da valorização do corpo, do lúdico e da arte!

Neste encontromarcado por sabores e odores vivenciamos outro momento: Quem caminhava pela área externa da casa, percebiamuitas árvores, de porte pequeno, mas com uma quantidade enorme de pequenas flores brancas, estas floresexalavamum suave perfume... quem rezou com a mãe natureza pode nutrir-se deste grande espetáculo.


Este mesmo perfume foisemelhante a “água de cheiro”que foi aspergida no nosso corpo na celebração final. Podemos associar nesta presença (água/flores) que não podemos abandonar a dimensão ecológica, já que a “criação geme em dores de parto”.

05. Um encontro marcado pela audição e dicção

Nós nos reunimos em torno de muitasmesas! Primeiro no espaçocelebrativo– todos os dias nos encontrávamosem torno damesa da Palavra edo altar– nos alimentávamos da Palavra de Deus e da Eucaristia.Após este momento éramos conduzidosa outra espaço – amesa da refeição.


Ali era a oportunidade da conversa fraterna: “de onde você veio, o que faz... este momento não podia se prolongar por demais porque amesa do plenárionos aguardava. Naquele momento valia a partilha do saber. Ali não estava em jogo a regra do saber mais, ou saber menos – mas dos saberes diferentes, do enfoque a partir das diversas áreas. Todo esse processo construído em mutirão e por muitas vezes revisado a partir do rumo que ia tomando o seminário.


Esse serviço foi prestado sobretudo pelas equipes da CRB Nacional (equipe bíblica, teológica, psicológica e missionária) e somado por muitas outras pessoas, que nos ofereceram suas reflexões e partilhas. Aos participantes do Seminário era assegurada semprea oportunidade de reagir, e fazer uso do microfone para ratificar ou retificar o tema explanado. O método portanto foi dialógico e interativo. Somava-se ao trabalho da plenária, o aprofundamento em  pequenos grupos.


Além desses espaços os temas optados pelos participantes,através de grupos específicos, escolhidos por afinidade ou necessidade de serem debatidos e partilhados.Podemos avaliar a ausência de alguns aspectos que não foram assegurados, mas é necessário buscar sempre o grande objetivo do seminário, e reconhecer que tivemos a oportunidade de ouvir e de falar.

Para assegurar este método o seminário foi assim distribuído:

1º Dia – Leitura dos sinais dos tempos da VRC hoje

Iluminação bíblica: “A loucura que Deus escolheu para confundir o mundo” (1 Cor 1,18-31)
Motivação para contemplação sapiencial dessa realidade
Reflexão pessoal
Leitura multidisciplinar dos “sinais dos tempos”
Análise da sondagem online
Partilha por grandes regiões do Brasil

2º Dia – Conversão ao núcleo identitário da VRC

Conversão ao núcleo identitário da VRC (Mc 3,13-14)
A vivência hoje do núcleo identitário da VRC
Reflexão em grupos
Leitura orante da Palavra de Deus
Partilha de boas práticas sobre leveza institucional

3º Dia – Busca de maior leveza e agilidade institucional
Busca de maior leveza e agilidade institucional
Reflexão em grupo
Assembleia Geral Ordinária da CRB
Leitura Orante da Palavra de Deus
Partilha de boas práticas sobre leveza institucional

4º Dia – Horizontes, caminhos, itinerários para uma VRC que tenha futuro

Pessoas consagradas hoje, protagonistas do amanhã – sinais que apontam para um novo modelo
Temas específicos por opção: Animação vocacional – formação inicial – formação continuada – formação para o envelhecimento – formação para gestão institucional
Fila do povo
Oração Missionária
Lazer intercultural

5º Dia – Entre o Seminário e a 23ª Assembléia Geral Eletiva da CRB Nacional
Conversão ao núcleo identitário da VRC
Trabalho em grupo
Encerramento

Não ardia o nosso coração quando Ele nos falava?(Lc 24)

Até chegarmos em casa, nós da diretoria da Regional Salvador, aproveitamos dos momentos da viagem para confirmar o que ressoava no nosso coração e planejar como anunciar esta grande alegria às comunidades a quemfomos representar. Não fomos em nosso nome. Como diretoria, cabe-nos a missão de animar a VRC presente nos estados da Bahia e Sergipe.


No Seminário, nosso falar passou pelo sertão, pelo Rio São Francisco, pelas periferias das grandes cidades, pela cidade do interior, pelos quilombolas, pelas tribos dos PataxóHã,Hã,hae,pelos colégios e hospitais, etc, etc – espaços onde assumimos nossa consagração, no seguimento a Jesus,– esta “loucura que Deus escolheu para confundir o mundo”!
Termino esta partilha com as últimas palavras do nosso Seminário proclamada por nossoslábios “Até que nos encontremos novamente, Deus nos guarde na palma de sua mão”!
E na mesma hora levantaram-se e voltaram para...e contaram o que aconteceu no caminho (Lc 24)
Um abraço carregado de maluquez e fraternura!
Pe.Edegard Silva Júnior, ms
Presidente da Regional da CRB Salvador
Bahia/Sergipe

“A Igreja no Brasil não pode ser compreendida sem a Vida Religiosa”, afirma Dom Jaime

Por ocasião do Seminário sobre a Vida Religiosa que aconteceu em Itaici, de 23 a 27 de fevereiro, Dom Jaime Spengler, bispo referencial da CNBB para a Vida Consagrada, deixou sua mensagem final à Vida Religiosa do Brasil:


"Foi para conversarmos, estudarmos, debatermos, buscarmos indicações, a respeito de nossa vida de religiosos e consagrados que nos sentimos COM-VOCADOS/AS neste espaço, durante esses dias...
Agora, talvez, nos sintamos, em retornando para nossas entidades, fraternidades, comunidades, PRO-VOCADOS/AS a ampliar o diálogo.
E para que nossa tarefa chegue a bom termo IN-VOCAMOS o próprio Senhor: abre nossos lábios, nossos olhos; orienta nossos passos, sustenta nossas decisões.
Voltamos então para nossas casas! Não com soluções, fórmulas, respostas prontas; levamos conosco questões, animados/as, entusiasmados/as a alimentar, ampliar, fomentar o diálogo, o embate, o debate, até o dia em que, juntos, encontrarmos a boa medida requerida para uma vida religiosa equilibrada, saudável, alegre, bem disposta!

O encontro desses dias teve e tem a característica de ‘seminário’. O seminário tem a característica de um sentar juntos, de um dialogar, de um se deixar questionar uns pelos outros, de um se deixar envolver por questões comuns, um caminhar juntos.

O seminário diz de um recíproco desafio, onde cada um, a partir de si, é capaz de se lançar na sondagem de algo, de questões que dizem respeito, com maior ou menor intensidade, a todos. O que estamos aqui celebrando está sendo sustentado por algo que já estamos sentindo e vivendo a tempos em nossas realidades particulares. Nesse sentido, o seminário está realizando seu objetivo.

Creio que o que nos orienta e sustenta, enquanto consagrados, é a ‘honra, a missão, o serviço, sim à vocação de colocar todas as nossas potencialidades à disposição do projeto de vida que vem de JESUS CRISTO, para nós, como VIDA RELIGIOSA CONSAGRADA.

Essa vocação é expressão de um encontro – encontro real e pessoal com a pessoa de Jesus Cristo. É isso que um dia fez com que decidíssemos dizer diante de Deus e da comunidade de fé: é isso que eu quero, é isso que desejo... Partimos então na busca de um espaço onde pudéssemos viver o toque, o encontro, a graça de termos sido tocados, encontrados, con-vocados, pro-vocados, enviados... Esse espaço é as nossas congregações, institutos, ordens... Não podemos esquecer nosso ponto de partida!

Certamente a CNBB olha com carinho para a VC; esta faz parte constitutiva da vida da Igreja! A Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada acompanha os ministérios ordenados e a vida consagrada. Vale acentuar: a comissão não é DOS, mas PARA os ministérios ordenados e VC. Nós estamos ai para caminhar juntos, para acompanhar, auxiliar, apoiar, incentivar, animar...

Algumas das questões que aqui foram levantadas são questões comuns no seio da própria Comissão da CNBB – claro que com acentos característicos:

a)     Vocação: certamente a maioria de nossas vocações não tem mais as características de 10/20 anos atrás. Aquele tipo de adolescente proveniente de famílias bem estruturadas, com formação catequético-religiosa solida, são raros. O que percebemos é um número crescente de candidatos/as que provêem de situações de fragmentação social, sem formação básica sólida, sem vivência eclesial, etc. Enfim, jovens marcados pelo nihilismo (o deserto cresce!). Creio que nesse contexto, é lançado um desafio enorme aos nossos processos formativos. Trata-se de um desafio que exige alimento sólido! Não podemos ainda esquecer que formação não é informação ou formatação.  Nesse contexto, vale relembrar que a ANIMAÇÃO VOCACIONAL é desafiada a todo instante, seja ‘ad intra’, seja ‘ad extra’. A animação vocacional não é algo que podemos delegar. Todos nós somos promotores vocacionais, lá onde nos encontramos.

b)    Missão: a vida religiosa consagrada jamais deixou de ser missionária (Haiti, África, Amazônia...). Encontramos religiosas e religiosos com disponibilidade, abertura, presteza... Entretanto, parece que o peso de nossas instituições tem começado a se manifestar para não poucos; com isso, parece estar se tornando difícil para alguns manter o ‘pique’ missionário. Fomentamos em nossos jovens o ardor missionário? Encontramos repercussão? E se encontramos, como procedemos?

c)     Leveza institucional: é algo que todos nós buscamos em todos os níveis. Sentimos o peso da instituição. Com o aumento da média de idade entre nós, com a multiplicação de frentes de trabalho assumidas, com a diminuição do número de candidatos/vocações, com a redução de membros em algumas de nossas instituições começamos a nos dar conta de que precisamos urgentemente rever nossas frentes de trabalho, e os processos de vida e trabalho. Por outro lado fica uma questão: como vão aquelas instâncias de nossa vida interna: revisão de vida, assembléias, capítulos locais, regionais, provinciais, as instâncias de avaliação e decisões, etc. Não passaria também por aqui a questão da leveza institucional?!

d)    Envelhecimento: religioso não se aposenta! Religioso no Brasil morre em pé! Isto diz de dedicação, paixão, amor pela própria consagração. Por outro lado, é verdade que precisamos aprender a acolher o ocaso da existência (psíquica, teológica, antropológica e espiritualmente).

e)     Tudo isso não pode nos abater. Ao contrário! A vida, a história brasileira é devedora da Vida Consagrada. A Vida Religiosa tem um lugar de destaque na história da evangelização nestas terras de santa cruz. A Igreja no Brasil não pode ser compreendida sem a Vida Religiosa. Tendo presente isso, nós não nos sentamos, e nem mesmo nos sentimos sentados em ‘berço esplendido’; tudo o que vimos, ouvimos e dizemos aqui testemunha o empenho, o desejo, o sonho de testemunhar nestas terras o amor de Deus.
f)     
g)     Não tenham medo. Ide pelo mundo; o mundo é nosso claustro! O Evangelho de hoje nos dava o método, o metro do caminho... respondendo ao imperativo da primeira leitura: sede santos!

  Irmã Marian: em nome da CNBB, muito obrigado por tudo o que se faz em favor de nosso povo – especialmente de nosso povo mais pobre. Conte conosco"!

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Palavra de começo, no fim


Presidente da Conferência dos Religiosos do Brasil, irmã Marian Ambrosio, encerra o Seminário de Vida Religiosa com uma mensagem
Queridas irmãs, queridos irmãos
 Como foi bom estar aqui nesta montanha, neste mosteiro, neste chão abençoada pelo amor que nos irmana! Como foi bom fazer o exercício de caminhar na mesma direção, mesmo com diferentes expectativas, diferentes percepções das prioridades, diferentes linhas de pensamentos!  Foram os olhos de Jesus fixos em nós, que nos colocaram aqui.
Não demos conta de responder a tudo. Isso é ótimo! A vida não é um Seminário. A missão não cabe em um Seminário. Graças a Deus! Agora voltamos para o lugar sagrado das nossas comunidades. Levem a cada irmã, a cada irmão de sua província o nosso abraço, mas leve também a convocação ao envolvimento, ao compromisso a proposta que aqui aprofundamos. Quem nos acompanhe Maria, mãe amorosa, todas nossas congregações, com todos os seus lindos nomes.
Encerramos o Seminário Nacional para as superioras e superiores maiores; a loucura que Deus escolheu para confundir o mundo  com a palavra final que está aqui na tela: “Até que nos encontremos novamente, Deus nos guarde na palma de sua mão”.
Muito obrigada!



Fim do Seminário sobre a Vida Religiosa não, começo

Participantes do Seminário de Vida Religiosa sintetizam o que significou o evento e o que levam para casa

A Vida Religiosa Consagrada, reunida em Indaiatuba (SP) no Centro de Espiritualidade Inaciana - Itaici em Indaiatuba (SP), conclui nesta manhã (27) o Seminário de Vida Religiosa: a loucura que Deus escolheu para confundir o mundo (Cf. 1Cor, 1,27), termina nesta manhã (27), promovido pela  CRB Nacional-Conferência dos Religiosos do Brasil.

Finalizando o debate proposto pelo Seminário Padre Carlos Palácio, vice-presidente da CRB Nacional e Irmã Annette Havenne, psicóloga, retomaram o tema abordado durante o evento e analisaram as ressonâncias dos trabalhos em grupo.  A diversidade e a riqueza das abordagens foram considerados elementos positivos. Entretanto, gerou um questionamento sobre até que ponto o tema foi internalizado e o quanto ficou claro o que significa essa loucura de Jesus Cristo que confunde o mundo. “Nada além do necessário”, foi a expressão usada por Irmã Annette para definir o verdadeiro intuito da leveza institucional. Para padre Palácio é fundamental entender a missão na Vida Consagrada  Religiosa como um permanente colocar-se a serviço dos outros. “Missão é vida e o viver qualifica a missão”, enfatizou.

Irmã Marian Ambrosio, presidente da CRB-Nacional, fala das alegrias e esperanças nascidas partir do Seminário. “Um profundo desejo de tomar nas mãos e coração a própria vocação no seu núcleo mais central. Profunda gratidão de ter sentado junto, abraçado a mesma causa, cantado os mesmos cantos, rezado as mesmas orações. Fica uma esperança, um sinal luminoso de um futuro mais autêntico, muito mais testemunhal e feliz para a Vida Religiosa do Brasil”, expressou Marian Ambrósio.

Geraldo Kolling, padre jesuíta e membro da diretória da CRB Nacional, fala de pontos significativos no decorrer do evento. “Houve uma reação favorável à temática, o clima de participação fraterna significa que há uma busca conjunta de pistas horizontes e soluções para problemáticas comuns, e as sugestões nos auxiliarão na preparação para a Assembleia Geral Eletiva de 2013,” pondera padre Geraldo.
“O Seminário superou minhas expectativas devido sua reflexão profunda, existencial e projetada para o futuro. Então a Vida Religiosa se encontrou, mas se encontrou num momento de encruzilhada, momento de crise, que estamos vivendo e, nesse momento de crise ela soube olhar para si mesma e ouvir a voz do Espírito que clama e geme por uma Vida Religiosa mais leve, mais profética, mais mística e é isso que estamos buscando”, ressalta Vera Bombonato, irmã paulina, teóloga e assessora da equipe de reflexão teológica da CRB-Nacional.  
Dom Jaime Spengler,  bispo membro da Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada e referencial para a Vida Religiosa Consagrada faz um apanhado geral do Seminário. “Um evento como este dá um retrato da Vida Religiosa Consagrada no Brasil. Ao olhar para este auditório, vemos tantos rostos, tantas diferenças, isso diz de uma riqueza. Outra dimensão é sobre esse encontro, ele tinha uma característica de Seminário, não podemos perder isso de vista. O Seminário é um espaço de diálogo, um espaço de estudo e debate, onde não tem quem sabe mais, quem sabe menos, mas todos estão, por assim dizer, empenhados em torno de uma questão comum. A proposta cumpriu seu objetivo. Por outro lado, fica um gostinho de quero mais, no sentido de que o envolvimento, as questões que a assembleia poderia trazer e colocar em comum, diante da complexidade que vemos hoje no mundo a da própria Vida Religiosa. Creio que isso tenha deixado a desejar, talvez, por muitas vezes não ser muito claro em que consiste um encontro como esse com característica de Seminário. Em nome da Comissão para os Ministérios Ordenados e Vida Consagrada que é para, não é dos, nossa presença é uma presença de incentivo, de apoio de um estar juntos de ouvir as alegrias, os anseios as preocupações e talvez de juntos tentar encontrar algumas indicações, algumas sendas que possam ser de auxilio”. Dom Jaime Spengler.
Para a Provincial, Geni Esteves, da Congregação das Irmãs de José Chambeerry, província de Curtiba (PR) o evento trouxe luzes para a Vida Religiosa Consagrada,  “Este Seminário foi um despertar da nossa vida, da necessidade de revermos nossas estruturas de congregações, de olharmos com mais clareza a questão da formação e aproveitarmos deste momento para intensificar uma gestão ampliada,” ressaltou irmã Geni.
O jovem Wesley Adenilton Ribeiro, irmão marista e membro da diretoria da CRB-Regional Vitória (ES), comenta sua impressões do Seminário “É o primeiro Seminário que  participo, deste tipo. É um espaço formativo, além das partilhas, das experiências os animadores e animadoras, as superioras e superiores gerais tentam buscar soluções que são desafios comuns da Vida Religiosa Consagrada.
 Um assunto muito debatido e  falado foi a leveza institucional. De fato, temos estruturas grandes e todos querem saber como diminuir esse peso buscar maior leveza inclusive nas relações. O Seminário deu pistas e linhas de ações para os âmbitos da Vida Religiosa, a partir da troca de experiências”, ressaltou irmão Wesley.
Foram dias intensos de palestras, debates, atividades em grupo, oficinas que buscou pistas e linhas de ações para a Vida Religiosa Consagrada no contexto atual e com olhar para o futuro, o Seminário continua na vida dos participantes que levam as discussões e pistas de ação para os locais onde atuam, espalhados em todo o Brasil.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Seminário da CRB debate sobre o sagrado e o profano

Teóloga propõe que religiosos sejam testemunhas de tempos novos

Na manhã, deste domingo, 26, o Seminário para a Vida Religiosa Consagrada, que acontece em Itaici, SP, teve como assessora a Irmã Bárbara Bucker, mc, da Equipe Teológica da CRB e professora de Ética Cristã, PUC- RJ.

A sua exposição retomou os temas dos dias anteriores ressaltando alguns aspectos como o possível descompasso entre a teologia e a vida, o modo de pensar Deus e a vida do povo; o fato de não estar só, mas em fraternidade e a exige uma aprendizagem constante.

Destacou, ainda, a importância de pedir a Deus um “coração pensante”, capaz de captar o seu o mistério, um coração atuante, apostólico, decidido. Tudo isso para qualificar o Ser e unificar a missão da Igreja fruto de um coração pensante, atuante e enamorado.

Ao abordar o tema do dia “Testemunhas de tempos novos”, Ir. Bárbara falou sobre a denúncia. Esta mostra o que não deve existir, que é contrário ao desígnio de Deus, que é não comunhão com Ele. Deus quer a vida de todos em abundância e isso implica o investimento da energia, do tempo e da disposição de cada pessoa.

O mundo criado por Deus e co-criado por seus filhos e filhas exige a vocação de ser pão e alimento. Isso pode diminuir as distâncias criadas pelos humanos e acentuar o esforço de comunhão para construir o santuário do “nós”. O filho de Deus na encarnação traz essa mensagem.

A assessora interpelou os participantes com os seguintes questionamentos: “Estamos tão seguros/as de que a secularização tem somente sentido negativo de um mal a ser evitado? Há na secularização, aspectos importantes para a Igreja e a vida religiosa?” Em seguida, propôs uma interpretação do “secular” que está, segundo seu modo de perceber, mais de acordo com a revelação bíblica, e que permite descobrir o sentido positivo da secularização, essencial para o futuro da vida religiosa.

Irmã Bárbara enfatizou que Jesus não foi um sacerdote no estilo do Antigo Testamento, mas foi um leigo com uma profissão conhecida em Nazaré. Um “Mestre” que convoca discípulos não para estudar a Lei, mas para anunciar o Reino de Deus como um dom que se oferece quando se ama o próximo.

 O próximo, nesse caso são especialmente os marginalizados, excluídos, doentes, necessitados de perdão e da misericórdia de Deus.
Assim a atividade secular se torna “parábola” de como se constrói o Reino de Deus e se forma e envia à comunidade de discípulos missionários para a salvação do mundo. A partir disso, todos são formandos e formadores numa relação mútua.

Para captar o positivo da secularização, se faz necessário “reordenar” as categorias do “religioso e secular”, do “sagrado e do profano”. Assim se clarifica a vocação profética da Vida Religiosa como “testemunhas de tempos novos”. Na revelação bíblica não há profanidade, mas é a liberdade humana rebelde à criação divina, que se coloca em oposição a ela.

O que distingue a vida religiosa da laical não é o caráter “sagrado”, mas o caráter da relação. A relação é consigo, com outro, com Deus, com o mistério. É importante considerar que, a profanação do sagrado pode dar-se tanto no âmbito do religioso (pecado de simonia) como no secular.

 A teóloga desafiou a assembleia a repensar suas categorias de sagrado, pois se pode correr o risco de julgar o outro pela aparência, sem conhecê-lo através da relação, isso exige uma postura de aprendizagem com o outro. 

Bucker finalizou dizendo que vocação cristã de estar no mundo e não ser do mundo segue sendo uma exigência do Evangelho. É uma vocação para viver o penúltimo com referência ao último e não para considerar o secular como alheio ao religioso, porque a sacralidade humana vivida pela obediência à ação sagrada de Deus abraça o secular e religioso, o penúltimo e o último.

O futuro da Vida Religiosa não vem do Direito, mas do Evangelho. “Todas/os nós, religiosos/as do mundo, deveríamos ter muito claro que o nosso futuro vai estar na sensibilidade concreta e efetiva que nós tenhamos pela dor e a humilhação dos mais infelizes desta Terra”, conclui citando o teólogo José Castillo.

Missão é tornar-se hóspede na casa dos outros

Na continuidade, padre Estevão Raschietti, diretor do Centro Cultural Missionário em Brasília, destacou as tarefas que pontam um modelo de Vida Consagrada Missionária.

Para Raschietti a missão faz parte da natureza de Deus, aquilo que Ele realmente é. Por isso a missão vem antes das congregações e da Igreja. Ela é maior e é de Deus, deve anunciar um mundo mais humano.

 Os religiosos estão no meio do mundo para, “salvar a presença de Deus”, para torná-lo mais humano. A partir desse olhar, surge um impulso interior que se chama gratuidade. Ao tornar-se missionário a pessoa torna-se parte da essência da vida divina.

A formação para o discipulado acontece na missão e não vem antes dela ou depois. Dessa forma se faz necessário organizar as comunidades a partir de projetos comuns. O desafio é procurar fazer a missão comunitariamente, construir a comunidade na missão. Onde tem conflitos comunitários, segundo Raschetti, é porque existem vários projetos comunitários e se fala a partir de vários projetos diferentes. Uma comunidade apostólica existe a partir da missão. Daí que a missão implica uma saída, lançar-se com consciência dos desafios.

De acordo com o assessor, há uma conversão missionária em torno da saída de estruturas e práticas. O envio missionário é uma ruptura com modelos sistêmicos. A pergunta a ser feita é: há mais alguma coisa para fazer? A missão é isso: não se pode ficar no mesmo lugar com as mesmas estruturas, as vezes estruturas muito mais imaginárias que reais.

Sair de si para entender as cruzes e os crucificados, significa adesão a um projeto de mundo global mais justo e solidário. Precisa-se sair e encontrar o outro e a alteridade, a missão é continua saída sem fim. Tornar-se hóspede na casa dos outros, o próprio dela é ser acolhido pelo outro, deixar de ser dono para ser hóspede. Fazer-se tudo a todos!

Padre Estevão, finalizou dizendo que a missão, é colocar-se no limiar das fronteiras, conta com uma consagração e por isso, os religiosos são missionários por excelência. Não se vai como turista para uma missão, mas para a vida toda, caso contrário não é missão. Esse desafio gera um diálogo, um encontro intercultural e interreligioso. Mas para que tudo isso seja realmente efetivo não pode ficar no âmbito da fala. A ação efetiva é ser testemunha do Evangelho!

Fonte: Assessoria de Imprensa da CRB

Missão de fronteira desafia a Vida Religiosa
      
Os participantes do Seminário sobre a Vida Consagrada que acontece entre os dias 23 e 27 de fevereiro, em Itaici, SP, representam uma variedade de dons e carismas. Os Institutos de Vida Apostólica e congregações reúnem, no Brasil, cerca de 50 mil religiosos e religiosas que atuam em centenas de frentes missionárias.

Algumas situações chamam a atenção pelo grau de comprometimento. São missões consideradas de fronteiras como, por exemplo, a Rede “Um Grito pela Vida” que há seis anos enfrenta o trabalho escravo, o tráfico de órgãos e de seres humanos, numa ação articulada entre mais de 50 congregações. Organizada em 12 núcleos regionais, integra a Rede Talita Kum, organismo Internacional da Vida Consagrada no enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.

Irmã Maria de Fátima Cunha, das Irmãs Salesiana de Recife, PE, e membro da coordenação Nacional da Rede recorda que, a iniciativa surgiu como um grão de mostrada, mas logo ganhou força.

“Hoje contamos com todas as Regionais da CRB que desenvolvem uma série de iniciativas. É um trabalho preventivo junto aos jovens, sobretudo as mulheres no norte e nordeste onde o problema é maior. Muitas recebem propostas de trabalho no exterior e caem na armadilha. Assumimos essa Rede como uma Missão profética na Vida Consagrada”, sublinhou.

A Rede influenciou as escolhas de algumas congregações. As Irmãs da Imaculada, por exemplo, comunidade da Irmã Eurides Oliveira, coordenadora da Rede, assumiu essa realidade como prioridade do capítulo e é uma das congregações mais ativas.

“Nós somos questionadas por que nos inserimos nos núcleos de enfrentamento nos estados que é um trabalho dos governos. O nosso trabalho é mais preventivo, mas enfrentamos resistências. Tivemos alguns casos de perseguição por exemplo, Irmã Guadalupe, religiosa mexicana que vive em São Paulo e  teve a casa invadida, e por duas vezes recebeu ameaças”, explica irmã Maria de Fátima.
A religiosa não esconde a sua preocupação com a Copa do Mundo de Futebol em 2014, pois sabe que é nesses grandes eventos que o problema do tráfico de mulheres aumenta. Para ela, “o tráfico de pessoas é uma violação dos Direitos Humanos e uma afronta à dignidade”.
Outra Missão desafiante acontece na comunidade da Rocinha, na cidade do Rio de Janeiro, onde a Irmã Rita de Cássia Luciano, das missionárias de Jesus crucificado, vive e trabalha em projetos sociais.
 Lá a religiosa atua na promoção da mulher e da cidadania que inclui o acompanhamento das obras do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC. Participa também do grupo “Rocinha Sem-fronteiras” que desenvolve projetos de educação, saúde e cultura, na busca de melhorias para a comunidade.
Rocinha é formada por mais de vinte bairros e a Irmã mora em um dos becos do morro. “Quando cheguei ao Rio, trabalhava na Rocinha com a Pastoral Operária. Por onze anos estive na coordenação de uma escola Metodista, mas o meu desejo era de morar na comunidade e durante cinco anos insisti para isso, até que em 2005 fui liberada”.

Os maiores desafios, segundo ela, são a violência, o desemprego e a droga. Na busca da sobrevivência, o povo não tem tempo de se reunir para discutir sobre seus problemas. 80% da população é nordestina que chegou no Rio em busca de melhores condições de vida. “No ano passado, Rocinha foi retomada pelo estado com a presença do exército e da polícia militar que montou lá uma Unidade da Polícia Pacificadora – UPP. Essa retomada tem em vista a preparação para a Copa do Mundo de futebol, mas o povo desconfia do futuro”, destaca.

A interação entre religiosas e religiosos de várias nacionalidades e carismas, que acontece nos grupos de partilha e oração, revela a riqueza da Missão encarnada nas mais variadas fronteiras que desafiam a Vida Consagrada no Brasil.
“O tema da loucura de Deus, neste Seminário, vem revolucionar a nossa maneira de pensar e agir como homens e mulheres consagrados. A nossa forma de nos apresentar diante da realidade parece mesmo uma verdadeira loucura, porque nossa opção é diferenciada”, relata Irmão Silvio da Silva, psdp, presidente da CRB Regional de Campo Grande.
Na Região, a CRB trabalha em solidariedade com os povos indígenas. “É uma cultura que não está sendo só dizimada, mas são homens, jovens, mulheres e crianças que estão morrendo. Se a Vida Religiosa não se coloca entre a ameaça dessas vidas para protegê-las, sabemos que o final será mesmo o seu desaparecimento”, argumenta.
Equipe de Assessoria da CRB