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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Seminário sobre a Vida Consagrada - Crônica



Por Padre Edegard
Presidente da CRB Regional de Salvador

Eis que vos anuncio uma grande alegria (Lc2)

            Na cidade de Indaiatuba-SP, no conhecido bairro de Itaici, de 23 a 27 de fevereiro a Vida Religiosa Consagrada, esteve reunida.Convocada pela Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) mais de 400 religiosas e religiosos, participaram do Seminário Nacional, cujo tema foi:Vida Religiosa: “a loucura que Deus criou para confundir o mundo”.

Pensei empartilhar este texto, não para repetir os conteúdos, debates, plenários, pois estes foram bem registrados eassegurados num CD comas reflexões produzidas e outros textos serão disponibilizados por outros meios.


Se quisermos tomar conhecimento das contribuições feitas por assessoras e assessores, poderemosfazer tanto pelo site daCRB Nacional, como no site dadomtotal.comque disponibilizará as palestras gravadas em vídeo.

            Expresso neste textoo sentimento que vivi. Farei utilizando a simbologia dos“órgãos do sentido”.Quero demonstrar a partir da minha percepção oque passou por minhasmãos, olhos,boca,nariz,ouvidos -por todo corpo –hospedando-se no coração!
Formamos naqueles dias uma comunidade de 400 religiosas e religiosos de todo país, num seminárioconstruído por tantas mãos e corações. O Seminário Nacionaltrouxe afirmações e muitas perguntas não respondidas.


 Quem dera que as nossas dúvidas fossem resolvidas a partir de uma pessoa que à frente nos diz o que fazer... A vida é tão dinâmica que vale o velho ditado: “Quando aprendi todas as respostas,mudaram todas as perguntas”.
            Desde oSeminário Nacional,trago presente no coração cinco sentimentos:

01.                    “Itaici”lugar teofânico

Ir a Itaici é beber das fontes da caminhada da Igreja no Brasil. Por muitas décadas este lugar, especificamente o Auditório “Rainha dos Apóstolos”, foi o cenário das grandes decisões pastorais da CNBB... Ao entrar neste auditório nada melhor do que fechar os olhos, silenciar...lembrar da voz de Dom Helder Câmara, utilizando-se da tribuna, na defesa dos pobres!


Da mesma forma Dom Aloísio, Dom Ivo, Dom Luciano... Também trazer presente Dom Paulo Evaristo Arns, Dom José Maria Pires, Dom Pedro Casaldáliga e todos aqueles e aquelas que sua memória for capaz de trazer presente!
Entrar neste auditório é fazer memória de tantos documentos e pronunciamentos proféticos da Igreja Católica no Brasil,da Semana Social, o encontro nacional dos presbíteros, Semana Catequética... ou quem não recorda do 4º Intereclesial das CEBs,em 1981 com o tema:Povo oprimido que se organiza para a libertação.
Nesta mesma tribuna quantas pessoas subiram para denunciar a violação dos direitos humanos e defender os pobres!
Como religiosos trazemos também uma “nuvem de testemunhas”(Hb 12): Ir Dulce dos Pobres, Madre Cristina, Pe Toninho, Ir Doroty, Ir Ana Roy e tantos e tantas religiosas e religiosas/osque assumiram seu quefazerhistórico.
Neste espaçosim-bólicoa vida religiosa no Brasil acampou e bebeu destas mesmas fontes, atualizando seu agir no contexto em que vivemos. Agora é o nosso momento!

02.          Um encontro marcado por sím-bolos e metáforas

Já na chegada (quarta feira) participamos da eucaristia, inclinando nossa cabeça e recebendo as cinzas. Com as palavras“arrependei-vos e crede no evangelho”reafirmamos nosso desejo em direcionar nossa vida na via aberta e indicada por Jesus.
O encontro foi criativo etrouxe figuras que iam e voltavam na reflexão: “palácios” e “cabanas”, avião e bicicleta, jegues e pulgas, tudo isso rodeadode loucos e loucas - metáforas usadas constantemente pelos assessores, tão bem compreendidas no contexto de cada fala.
A palavraloucurasoa para muitos, como algo estranho ou como algo negativo. Palavra que para alguns deve ser descartada da VRC... Mas na riqueza do nosso vocabulário, as palavras contem um sentido amplo; em se tratando da “loucura”tivemosa oportunidade em buscar do seu significado.
Ouvimos muitas vezes expressões como: “Ele está louco de paixão por aquela pessoa”... “Estou louco de vontade de comer um churrasco”... “Está louco rapaz?”... essas afirmações não são lidas ao pé da letra, mas por trás da palavra!
Para contextualizar esta loucura,buscamos no dicionário o seu significado: 1.Loucura: “insanidade mental” – diga-se de passagem, não é o nosso caso... todos os presentes gozavam de uma excelente sanidade, disposição, vontade de exercer sua missão. 2.Loucura: atitude de quem devota grande amor e entusiasmo. Neste caminhotrilha a VRC. Loucos/as de amor/paixão!
Este é o sentido da loucura evocada e provocada pela CRB à toda VRC; “loucura”fundamentada a partir do evangelho de Marcose da carta de Paulo aos Coríntios. Coube à equipe bíblica oferecer o texto e o contexto dos referidos textos. 
03.          A Maluquez: Loucura com Lucidez!

Busquei na poesia,uma contribuição para uma melhor compreensão do sentido desta “loucura”. Vejamos a composição do cantor baiano, Raul Seixas (1945-1989) na canção intitulada “Maluco Beleza”:
“Enquanto você
Se esforça pra ser
Um sujeito normal
E fazer tudo igual...
Eu do meu lado
Aprendendo a ser louco
Maluco total
Na loucura real...
Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez...
Vou ficar


Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza”... (grifo meu)

Uma loucura que se aprende... aprende-se de quem? De Jesus de Nazaré, “um certo galileu”, que numa sociedade de exclusão e perseguição fez a loucura de colocar-se do lado dos pobres, de valorizar as mulheres, os/as samaritanos/as, as crianças! De curar leprosos, cegos, coxos...De ouvir a voz do caído na beira da estrada... Jesus o louco de Deus, o Deus louco! Louco de paixão, louco de amor, louco de ternura, louco de compaixão!


Loucura, portanto, não significa o agir de pessoas desequilibradas, mas uma ação marcada pela lucidez/profecia, amor/compaixão, ou seja, uma “loucura real”!

04.   Um encontro marcado por sabores e odores

Nos seis diassaboreamos o “gosto do Brasil”, trazido na generosidade de todos/as. No domingo, as duas mesas tornaram-sepequenas para festa da partilha: a castanha e cupuaçu do norte, beiju e castanha de caju do nordeste, sucos e bolos do sudeste,chimarrão e pé de moleque do sul,doces com os sabores do cerrado e pantanal – trazidos pelo centro oeste!


Tudo mesclado por ritmos e corpos que se juntavam para dançar - seja na leveza da cultura indiana, ou nos ritmos dosafoxés, vanerão, quadrilhas, carnaval, samba de roda, e tantos ritmos que nos aproximavam e afirmavam que loucura pressupõe a presença dabeleza, da ternura, da valorização do corpo, do lúdico e da arte!

Neste encontromarcado por sabores e odores vivenciamos outro momento: Quem caminhava pela área externa da casa, percebiamuitas árvores, de porte pequeno, mas com uma quantidade enorme de pequenas flores brancas, estas floresexalavamum suave perfume... quem rezou com a mãe natureza pode nutrir-se deste grande espetáculo.


Este mesmo perfume foisemelhante a “água de cheiro”que foi aspergida no nosso corpo na celebração final. Podemos associar nesta presença (água/flores) que não podemos abandonar a dimensão ecológica, já que a “criação geme em dores de parto”.

05. Um encontro marcado pela audição e dicção

Nós nos reunimos em torno de muitasmesas! Primeiro no espaçocelebrativo– todos os dias nos encontrávamosem torno damesa da Palavra edo altar– nos alimentávamos da Palavra de Deus e da Eucaristia.Após este momento éramos conduzidosa outra espaço – amesa da refeição.


Ali era a oportunidade da conversa fraterna: “de onde você veio, o que faz... este momento não podia se prolongar por demais porque amesa do plenárionos aguardava. Naquele momento valia a partilha do saber. Ali não estava em jogo a regra do saber mais, ou saber menos – mas dos saberes diferentes, do enfoque a partir das diversas áreas. Todo esse processo construído em mutirão e por muitas vezes revisado a partir do rumo que ia tomando o seminário.


Esse serviço foi prestado sobretudo pelas equipes da CRB Nacional (equipe bíblica, teológica, psicológica e missionária) e somado por muitas outras pessoas, que nos ofereceram suas reflexões e partilhas. Aos participantes do Seminário era assegurada semprea oportunidade de reagir, e fazer uso do microfone para ratificar ou retificar o tema explanado. O método portanto foi dialógico e interativo. Somava-se ao trabalho da plenária, o aprofundamento em  pequenos grupos.


Além desses espaços os temas optados pelos participantes,através de grupos específicos, escolhidos por afinidade ou necessidade de serem debatidos e partilhados.Podemos avaliar a ausência de alguns aspectos que não foram assegurados, mas é necessário buscar sempre o grande objetivo do seminário, e reconhecer que tivemos a oportunidade de ouvir e de falar.

Para assegurar este método o seminário foi assim distribuído:

1º Dia – Leitura dos sinais dos tempos da VRC hoje

Iluminação bíblica: “A loucura que Deus escolheu para confundir o mundo” (1 Cor 1,18-31)
Motivação para contemplação sapiencial dessa realidade
Reflexão pessoal
Leitura multidisciplinar dos “sinais dos tempos”
Análise da sondagem online
Partilha por grandes regiões do Brasil

2º Dia – Conversão ao núcleo identitário da VRC

Conversão ao núcleo identitário da VRC (Mc 3,13-14)
A vivência hoje do núcleo identitário da VRC
Reflexão em grupos
Leitura orante da Palavra de Deus
Partilha de boas práticas sobre leveza institucional

3º Dia – Busca de maior leveza e agilidade institucional
Busca de maior leveza e agilidade institucional
Reflexão em grupo
Assembleia Geral Ordinária da CRB
Leitura Orante da Palavra de Deus
Partilha de boas práticas sobre leveza institucional

4º Dia – Horizontes, caminhos, itinerários para uma VRC que tenha futuro

Pessoas consagradas hoje, protagonistas do amanhã – sinais que apontam para um novo modelo
Temas específicos por opção: Animação vocacional – formação inicial – formação continuada – formação para o envelhecimento – formação para gestão institucional
Fila do povo
Oração Missionária
Lazer intercultural

5º Dia – Entre o Seminário e a 23ª Assembléia Geral Eletiva da CRB Nacional
Conversão ao núcleo identitário da VRC
Trabalho em grupo
Encerramento

Não ardia o nosso coração quando Ele nos falava?(Lc 24)

Até chegarmos em casa, nós da diretoria da Regional Salvador, aproveitamos dos momentos da viagem para confirmar o que ressoava no nosso coração e planejar como anunciar esta grande alegria às comunidades a quemfomos representar. Não fomos em nosso nome. Como diretoria, cabe-nos a missão de animar a VRC presente nos estados da Bahia e Sergipe.


No Seminário, nosso falar passou pelo sertão, pelo Rio São Francisco, pelas periferias das grandes cidades, pela cidade do interior, pelos quilombolas, pelas tribos dos PataxóHã,Hã,hae,pelos colégios e hospitais, etc, etc – espaços onde assumimos nossa consagração, no seguimento a Jesus,– esta “loucura que Deus escolheu para confundir o mundo”!
Termino esta partilha com as últimas palavras do nosso Seminário proclamada por nossoslábios “Até que nos encontremos novamente, Deus nos guarde na palma de sua mão”!
E na mesma hora levantaram-se e voltaram para...e contaram o que aconteceu no caminho (Lc 24)
Um abraço carregado de maluquez e fraternura!
Pe.Edegard Silva Júnior, ms
Presidente da Regional da CRB Salvador
Bahia/Sergipe

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