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domingo, 26 de fevereiro de 2012

Vida Religiosa Consagrada inquieta e alegre

Pesquisa apresenta alegrias e inquietações da Vida Religiosa Consagrada

Márcio Fabri dos Anjos (foto) que é teólogo, padre redentorista, membro da equipe de reflexão teológica da CRB Nacional e docente da pós-graduação em Bioética no Centro Universitário São Camilo, fala  da pesquisa realizada sobre dados obtidos por uma sondagem de opinião através do site da CRB nos meses de agosto a dezembro de 2011, com duas perguntas: Quais são as alegrias e inquietações da VRC.
Analisando os dados, Márcio mostrou primeiro como uma aproximação científica ajuda a apurar e organizar melhor as percepções sobre os dados, evitando leituras introjetivas do que achamos que já sabemos sobre o grupo que se manifestou. Ganha-se com isto qualidade crítica na análise. 
Os resultados de sua análise foram apresentados no Seminário de Vida Religiosa que acontece no Centro de Espiritualidade Inaciana em Indaiatuba (SP), de 23 a 27 de fevereiro de 2012. Pessoas de 23 a 92 anos responderam às questões. Nesta entrevista, padre Márcio Fabri, fala da pesquisa em especifico e tece comentários sobre o momento atual da VRC.
  
Como se dá esta sondagem e para que ela foi feita?
A sondagem foi feita para se ter uma impressão geral sobre os sentimentos de pessoas concretas que vivem a Vida Religiosa hoje. Foi interessante colocar as perguntas em termos de que “alegrias e inquietações” as pessoas sentem. Pois falar dos sentimentos desobriga de fazer teorias. E com a liberdade de dizer o que se pensa, se fala também o que não se perguntou.
O olhar sobre os dados colhidos pode partir de vários ângulos, conforme o que se está interessado em procurar. Neste caso concreto, a CRB queria ter uma impressão geral sobre os sentimentos de alegria e preocupação que estão presentes na Vida Religiosa entre nós atualmente. Mas uma análise com métodos científicos permite ir além disso.

O que significa ir além nestas percepções?
A gente poderia ficar contente em obter dados como, por exemplo, uma simples lista de alegrias e preocupações; ou um agrupamentos por idade, gênero, origem e função das pessoas que responderam às questões. Isto daria conhecimentos quantitativos que se reduziriam ao grupo que participou na sondagem.  Ir além significa analisar melhor as razões ou o que está subjacente às alegrias e preocupações; como também buscar através disto, ver que interrogações se apresentam ali para a realidade da Vida Religiosa como um todo.

Com se desenvolve esta metodologia de análise?
Este método tem características de uma pesquisa qualitativa. Mas como se trata de uma amostra muito grande, torna-se forçoso buscar grandes linhas e tendências presentes nas manifestações do grupo. Isto se faz primeiramente por uma identificação de “categorias” básicas para agrupar os vários tipos de razões ou lugares das alegrias e preocupações manifestadas. Depois, num passo seguinte, se buscam sub-categorias que especifiquem melhor os diferentes fatores implicados nesta categoria. Por exemplo, em uma categoria com “espiritualidade” encontramos sub-categorias como “fontes – partilhas – modos de reforço – atitudes resultantes – sentimentos”. Este método ajuda muito a colocar a descoberto muitos dados subjacentes que são pontos centrais dos sentimentos manifestados.

E quais foram esses pontos centrais das alegrias e preocupações verificados pela pesquisa?
Verificamos lugares conhecidos como as categorias de espiritualidade, comunidade e missão. Mas a confluência maior gira em torno da instituição. Verificamos também que a identidade e lugar são pontos sobre os quais convergem alegrias e preocupações; bem como atitudes como a garra, a coragem de “ir na contra-mão da sociedade”, e semelhantes, ou o desânimo e descompromisso dão uma tônica especial; e também a categoria de sentimento como realização pessoal e alegrias, relacionada com outras categorias ou dados. Isto permite identificar como que focos da razão dos sentimentos, mas ao mesmo tempo notar os entrelaçamentos entre eles. As sub-categorias permitem ao mesmo tempo ir além dos rótulos genéricos. Nesta pesquisa, por exemplo, na categoria missão, esse termo quase não aparece. Entre as alegrias ele se apresenta como “pastoral”; e ao falar de preocupações a missão aparece como “trabalho”.  

Entre as preocupações o que aparece com mais destaque?
Eu destacaria dois, que numa análise mais aprofundada sabemos que pertencem ao mesmo horizonte: a cultura pós-moderna em que vivemos, e a crise institucional  que a Vida Religiosa enfrenta, com forte diminuição nas vocações, desistências, envelhecimento, implicações nas obras e empreendimentos congregacionais já assumidos. É curioso que se veja a cultura moderna mais sob o ponto de vista negativo, de influxos contrários ao espírito da Vida Religiosa, do que de seus benefícios e novos recursos. Isto condiciona certamente a leitura que se faz sobre as atitudes e comportamentos de novas postulantes à Vida Religiosa. Consequentemente também pode levar a uma ambigüidade em interpretar a afirmação de Paulo sobre a “loucura cristã que confunde a loucura do mundo”; ao mesmo tempo em que se perde o desafio de se poder também aprender com os novos tempos.

Indo além da pesquisa, você acha que a forma como a VRC está pode desaparecer?
A forma em que ela está contém elementos múltiplos. Grande parte deles não irá resistir às mudanças trazidas pelas novas condições culturais. Mas dizer que não sobrará nada seria dizer duas coisas: que não há nada do Espírito de Deus na VRC de hoje e que se houver, o Espírito será solenemente derrotado pelos novos tempos. Sabemos que há muito bom fermento e expressões da fidelidade ao Espírito que são persistentes e indispensáveis para se inventar a fidelidade em outros moldes no futuro próximo e já emergente. Dentro desse quadro, acho que a VRC deverá passar por radical transformação em suas formas de ser e se organizar.

Isso significa que a VRC não acompanhou o ritmo das mudanças sócio-culturais?
Como toda instituição, a VRC acabou perdendo a agilidade em manter a originalidade do Espírito e adaptar seus serviços ou missão às novas condições sociais e culturais. Muitos de seus serviços foram sendo desenvolvidos pela sociedade civil e pelo Estado, e a VRC ou foi perdendo seus espaços ou foi se igualando a outras empresas. Assim a VRC precisa retomar a originalidade de sua presença na sociedade e refazer a “linguagem” e expressões para ser sinal de Deus ao mundo.

A pesquisa aponta saídas para preocupações e crises atuais?
Há muitas manifestações de alegria por ver uma VRC bem empenhada em buscar em conjunto, partilhando idéias e experiências. Há quem diga de modo mais pragmático e com um tom de ironia, que “está todo mundo buscando porque estão vendo que a água já está chegando ao pescoço...” Ou que as reestruturações de Congregações e Províncias não passem de uma linda forma de “morrermos abraçados”, como dizia um amigo teólogo. Mas, embora os dados da sondagem não mencionem experiências e iniciativas de mudanças radicais, sabe-se que elas existem e já estão em curso. Não sabemos bem o que se irá conseguir. Mas é confortante perceber que há um inconformismo atuante na busca da transformação.

Então, a Vida Religiosa Consagrada tem futuro?
Futuro tem. Mas a questão é qual futuro? Seu futuro depende de sua abertura para retomar a sua inspiração primeira, com a capacidade de reinventar as formas concretas de levar adiante esta inspiração que lhe permita ser um sinal característico do Amor de Deus no mundo. Escutei de um consultor de empresas, que em sua expectativa a VRC deveria ser uma referência espiritual do ser e estar no mundo. Se em tudo se iguala ao modo de fazer e de se organizar de outros grupos e empreendimentos, que identidade específica poderá postular? Acredito que o futuro depende de nossa disposição para escutar o Espírito de Deus que nos fala através dos acontecimentos e em meio às mudanças, sempre nos convocando a amar, a ouvir o clamor da dor e das necessidades, e a ser criativo nas formas de fazer dessa escuta uma partilha solidária.

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